Após a visita à Matinha de Queluz fui agora conhecer outro local de referência para uma corrida ou uma simples caminhada na mesma freguesia, comprovando que existem outros locais pouco conhecidos que merecem ser divulgados.
No século XIX a coroa portuguesa adquiriu um terreno contíguo ao Palácio de Queluz como complemento à expansão da sua área agrícola. Chegou aos dias de hoje conhecida como Quinta Nova e foi um espaço vocacionado para a plantação de espécies hortofrutícolas destinadas ao consumo no palácio, bem como viveiro de plantas e de arbustos para posterior transplante nos jardins da residência real.
Com o fim da Monarquia a quinta foi perdendo importância como espaço predominantemente agrícola, sendo a utilização mais significativa que teve durante o século passado sido as quase sete décadas em que esteve ao serviço da Estradas de Portugal, que ali permaneceu até 2010. Foi durante anos o viveiro da Junta Autónoma das Estradas, sendo dali que se transplantavam os loendros para os separadores das auto-estradas e as árvores para as bermas das estradas nacionais. A febre das privatizações que assolou o Estado no início do novo século ditou a desafectação da quinta ao organismo a que estava adstrita, sendo que, após um período de abandono, a sua posse foi confiada ao Ministério da Defesa. Passou assim a acolher a Repartição de Abonos do Serviço de Pessoal do Exército, bem como a partilhar parte da sua área com o Regimento de Artilharia Antiaérea n.º1, cujo quartel confina com a mesma.
Em 2013 o Regimento decidiu realizar trabalhos de limpeza e revitalização do espaço de forma a preservar o local e, ao mesmo tempo, promover a sua utilização pública, algo que na prática já acontecia devido à escassez de alternativas na freguesia.
Entrei no espaço pelo acesso do Largo do Palácio, junto ao posto de transformação da EDP, e desde logo parti à descoberta do seu perímetro. Segui na direcção dos ponteiros do relógio, por caminhos que variam entre o largo e os trilhos muito estreitos, sempre ladeados pelo muro ou pela cerca que limitam a quinta.
Em termos geográficos está balizada por duas vias de tráfego intenso, o IC19 e a Av. do Regimento de Comandos, mas a verdade é que nos abstraímos desse facto dado o ambiente tranquilo que proporciona. Ao longo do percurso somos surpreendidos pelo variado e denso coberto vegetal da mata existente, composta por espécies arbóreas de grande porte com destaque para pinheiros e sobreiros. Encontramos igualmente uma grande variedade de arbustos que permitem a vida de alguma fauna, sobretudo pássaros e coelhos, que amiúde cruzam o nosso caminho.
Na segunda incursão pelos caminhos da Quinta Nova fui à descoberta da parte mais interior, aquela que permite ficarmos a conhecer os locais e os testemunhos do passado que perduram na actualidade.
A quinta é atravessada pela ribeira de Carenque, cujo percurso faz de linha divisória entre Queluz e a Amadora, hoje um curso de água calmo e diminuto. Porém, se observarmos as pontes que nele foram construídas, podemos imaginar que nem sempre terá sido assim. São exemplos disso a ponte Filipina no exterior da quinta e, no seu interior, a ponte da Quinta Nova. Apesar da inexistência de um marco que permita saber a data da sua construção tudo leva a crer que remontará ao início do séc. XVIII, tendo em conta os pormenores e decorações ainda visíveis.
A zona mais interessante de todo o espaço é a das antigas hortas, onde podemos observar o que resta do complexo sistema de rega assente em dois tanques de pedra de grandes dimensões, bem como o aqueduto de arcos que transportava a água das minas existentes na mata, as quais encontramos dispersas por vários locais e que são acessíveis pelos trilhos que cruzam os caminhos principais.
Apesar do estado de abandono em que se encontra o património edificado, bem como da necessidade da realização de uma acção pontual de limpeza nalguns locais específicos, a Quinta Nova é um local aprazível e um espaço de lazer muito procurado e apreciado por praticantes de corrida e de caminhada.
Para desfrutar numa corrida tranquila ou numa relaxante caminhada, ou para um momento de comunhão com a natureza, fica a sugestão para uma visita a este bonito local.
Características do percurso – piso: misto (empedrado e terra batida); tipo: circular; distâncias: perímetro – 2,6 km; interior: 2,9 km; água: não; estacionamento: fácil; grau de dificuldade (1 a 5): 2 coordenadas gps do ponto inicial/final: n38º 44.96′, w9º 15.34′.