A Matinha de Queluz é um espaço florestal murado de 21 ha, anexa ao Palácio Nacional de Queluz e separada dos seus jardins pelo IC19, a via mais movimentada do país. Sobre a sua génese conhece-se muito pouco, havendo, no entanto, registos de que se tornou propriedade da Casa Real após a Restauração de 1640.
Com a construção do Palácio de Queluz, iniciada em 1747, passou a ser parte integrante dos jardins do mesmo, havendo referências de que a Rainha Carlota Joaquina – A megera de Queluz – tenha mandado construir, em 1823, uma praça no meio da mata no local conhecido como “meia-laranja”, destinado às distrações tauromáquicas de D. Miguel, o seu filho dilecto de má memória, e à realização de espectáculos de teatro ao ar livre.
Dado estar localizada numa zona sujeita a influências atlântica e mediterrânea possui, entre as inúmeras espécies arbóreas espontâneas, um povoamento relíquia de sobreiros, os quais nunca foram descortiçados, além de carvalhos e azinheiras, e outra vegetação nativa, considerado um testemunho residual da formação vegetal que cobriria a zona em tempos antigos. Existem ainda, pensa-se que plantadas posteriormente, alfarrobeiras, olaias e freixos que, no seu conjunto, formam uma mata adulta que se conserva num estado muito natural.
Na actualidade e no seguimento de um protocolo assinado em Abril de 2006, o espaço está sob a alçada da C.M. de Sintra, à qual cabe a manutenção, conservação e beneficiação deste sensível ecossistema, ao qual fui fazer uma visita em forma de treino. Eis o que encontrei.
A primeira sensação que se tem quando entramos na Matinha de Queluz é de que estamos, verdadeiramente, muito longe do bulício caótico do vizinho IC19. No painel existente após o portão de acesso ficamos a conhecer um pouco da história do local, bem como da flora e fauna ali existentes. De bastante utilidade é o mapa que assinala os percursos delineados, tendo constatado que estão marcados três circuitos de manutenção, os quais percorrem os caminhos da mata em distâncias variadas. Assim sendo, decidi percorrer cada um deles, tendo começado pelo mais longo para dar início à exploração deste magnífico local.
Seja qual for a direcção escolhida, só existe uma opção: subir ou subir! Optei pela direcção contrária aos ponteiros do relógio, o caminho da direita, seguindo paralelo ao muro que delimita a mata e que permite descobrir o perímetro destes 21 ha. O piso é predominantemente em pedra e muito irregular, aconselhando cuidado redobrado, pois além de escorregadio tem muitas saliências à superfície. No entanto, a beleza natural que o espaço proporciona ao longo dos 1,9 km deste percurso compensa qualquer percalço que possa suceder.
Percorrido o perímetro da mata passei à exploração dos dois circuitos restantes, o médio e o pequeno, na extensão de 1,4 e 1 km, respectivamente. Parte significativa do traçado de ambos é comum com o acima descrito, variando apenas na forma como percorrem longitudinalmente a mata. Nestes caminhos o piso revelou-se uma agradável surpresa pela suavidade que proporcionam, dado estarem cobertos por uma espessa camada de folhas.
O circuito médio faz a passagem pela “meia-laranja” e o pequeno pela clareira central, locais de confluência de outros trilhos secundários. No entanto é preciso alguma atenção para os fazermos tal como estão delineados, dado as marcações serem quase inexistentes escassas e estarem a precisar urgentemente de reparação.
Porém, existe uma situação que é, no mínimo, constrangedora para quem vai usufruir do espaço para a prática desportiva ou para uma simples caminhada. A mata é um notório ponto de encontro homossexual, havendo um enorme corrupio de indivíduos em busca de um parceiro de ocasião. Sem querer entrar em considerações moralistas (cada qual é livre de ter a orientação sexual que entende), não se pode deixar de ter em conta que a Matinha de Queluz é um local onde as escolas fazem, frequentemente, visitas de estudo com crianças, pelo que me parece pertinente deixar a questão: a C.M. de Sintra e a Junta de Freguesia de Queluz não sabem o que se passa, ou simplesmente fecham os olhos e fingem que nada acontece…?!
No entanto, apesar do que acima relato, não tenho dúvidas em considerar a Matinha de Queluz um verdadeiro tesouro natural. Oxalá haja inteligência e vontade para a manter assim preservada e, já agora, livre da “fauna” que ali estabeleceu o seu “habitat não natural”…
Características do percurso – piso: misto (pedra e terra batida); distâncias dos circuitos: grande – 1,9 km; médio – 1,4 km; pequeno – 1 km; tipo: circular; água: não; estacionamento: fácil; grau de dificuldade (1 a 5): 2; coordenadas gps do ponto inicial/final: n38º 44.49′, w9º 15.31′.